O futuro é a morte

O que dois instrutores de parapente me ensinaram em duas horas

Por Juliana

“Mas quem vai fazer ela desistir disso?”. Não é questão de ser cabeça dura, mas eu quero ir até a última possibilidade. É claro que pode dar errado, deve dar muito mais do que se eu desistisse antes, mas já tentei aprender e por enquanto não dá, eu ainda quero ir até meu limite. Não sei onde ele está exatamente, mero detalhe. A parte do “não sofrer se der errado” é o caos, essa estou na aula um. Ok, talvez na zero.

Vitória, Espírito Santo, feriado. Tinha agendado um salto de parapente. Amanheceu nublado e chovendo, aquele dia “não pule de parapente hoje”. Ignorei. Dança da chuva ao contrário e mental, pois só minha prima apoiava, porque ela saltaria também. O céu completamente indeciso e pelo jeito o instrutor que nos levaria idem, pois o cara sumiu. Mas eu tinha outro contato, liguei e combinamos, eles passariam no hotel em 20 minutos. “O que?”, disse minha prima. E desistiu, porque achou o preço muito baixo.

Convenci ela e o namorado a irem comigo pra assistir. Tínhamos duas horas contadas pra ir e voltar.

Sabe aquelas pessoas que você conhece, mesmo de passagem, e deixam algo de bom? Na aparência, lembravam o gordo e o magro, um baixinho e magricelo e o outro grande e mais cheinho. Os dois certamente com mais de cinquenta. Falavam um carioquês perfeito, eu gosto. Em pouquíssimo tempo parecia que nos conhecíamos há anos. Apesar do céu completamente nublado, com aqueles dois não tem tempo ruim.

Questionados sobre algum acidente que já aconteceu nos saltos: “Pra não te falar que nunca teve, uma vez fiz um pouso forçado e meu acompanhante quebrou o pé. Mas ele não jogava bola, pé pra que né? Pra voar um só dá conta.”

Sempre rindo, fosse deles, da situação, da vida. “A gente leva assim, sabe? A verdade é que cansamos de trabalhar, agora só voamos. Disso não quero me aposentar é nunca. Porque a única certeza mesmo que você tem do futuro é a morte. E, pra morrer, tem que viver. Então pra que se preocupar com os riscos? Tem que pular sempre”.

Eu não saltei no parapente. Não tinha vento suficiente pra fazer um vôo bacana e o que dava, 40 segundos no ar, eu dispensei. Emoção pouca não, né! Porém, ganhei essa conversa cuca fresca com dois bonachões que simplesmente vivem cada segundo.

Às vezes não é nem primeira chance. É segunda, terceira, décima, centésima. E daí? O mundo está cheio delas. Tem que pular sempre.

4 Comentários

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4 Respostas para “O futuro é a morte

  1. Renata Thomaz

    Mto bom Ju, só faltou a parte que eu achei que iam degolar a gente e vender nossos órgãos para o mercado clandestino hahahahha……enfim né….é sempre bom ter histórias pra contar!

  2. PH

    Tem que pular sempre…

  3. Adorei a coragem, pena q o tempo não ajudou. Infelizmente, por mais pensamento positivo que a gente tem, “fatores externos” precisam ajudar, né? Espero logo ler o relato do seu salto!

  4. É o famoso “se joga” que eu sempre falo. Adoro esse tipo de lição que vale uma vida. As ruas estão cheias delas: no taxi, no metrô… mas a sua veio do céu, pense nisso!! Uiiii, exagerei! rs

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