Arquivo do mês: julho 2014

Para papai e suas músicas

Por: Marianna Abdo

Ouço suas músicas para ficar mais perto de você.
Ouço suas músicas para lembrar da sua posição no sofá, batucando com a mão direita no joelho lustrado (esse brilho sempre me impressionou) e dizendo que algumas letras são tão lindas que dão até vontade de sofrer.
Ouço suas músicas para lembrar de todas as vezes que dizia meu nome depois que Caetano cantava “você é linda”.
Ouço Bruno e Marrone porque “só eu sei o que é que eu faço com essa falta de você”, pai.
Ouço suas músicas para lembrar de quando me disse que casaria com a mamãe de novo e eu pensei se era a música que tocava que te fez pensar nisso.
Ouço os CDS riscados para recordar das fitas quebradas pelo chão da casa – uma delas me rendeu um corte no pé – e lembrar que você não era assim tão bom.
Ouço suas músicas porque eram enquanto elas tocavam que tivemos as melhores conversas e os mais lindos silêncios.
Ouço suas músicas porque tocava uma delas quando você disse “que merda! Achei que ele seria seu último namorado” e acabou com o pouco de força que eu tinha.
Ouço Dominguinhos e “reparo naquela estrada, que distância nos levará”. E sei que você era o próprio Juca Pitanga Santeiro que “não perguntou pra ninguém o que era bom/
Se mandou pra capital/Não tinha medo de nada/Coragem sem freio/Filho do norte, da sorte, da fome e do meio”.
Ouço suas músicas que não são mais de Dominguinhos, Erasmo, Roberto, Zé Ramalho, Raul, Renato ou Zeca. Ouço porque são suas e as dores do meu coração de filha e os CDS agora todos meus.
Ouço suas músicas por todas as vezes que você as deixou de ouvir porque eu sofria de amor.

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