Por Juliana
É uma pena que nossas conversas depois de dias corridos e estressantes gire em torno de pessoas enjauladas que correm atrás de….? Dinheiro? Fama? Chega a ser triste, vocês não acham nem um pouco? Ter de escutar o jornalista Pedro Bial enchendo a boca e o bolso pra falar “da casa mais vigiada do Brasil”. É até desumano (eu acho de coração) que estejamos mais preocupados em vigiar essa casa do que as de nordestinos que choram a morte de filhos desnutridos, ou as de paulistanos e cariocas perdidas em enchentes, de índios destruídas por hidrelétricas.
Vão me dizer “dá licença, liberdade de expressão também é cada um escolher o que assistir e como se divertir”. Aumenta meu espanto. Vejam em que transformamos nosso conceito de divertir-se. Depois da novela, você tem um “encontro televisivo” com um bando de desconhecidos que te divertem. Não satisfeito, entra na sua rede “social” e posta piadas sobre estupro!!! Estamos reduzindo nosso poder de discussão sobre sérias questões sociais e éticas a brincadeiras de mal gosto no facebook. É brincadeira?! Pior que não.
O que mais me espanta, ainda, se é possível, são as consequências de toda essa avalanche. Para onde caminhamos nos comportando assim?
Penso que uma delas está na ausência de autoconhecimento. Engolidos por competições e informações, chegamos a um estágio de desconhecimento sobre nós mesmos. Digo nós para eu, você, nós, humanos. Alcançamos um nível de superficialidade tamanho que banalizar um estupro é normal, pois não reconhecemos nos outros o nós que somos.
É a falta de nós e de nos enxergarmos como outros que nos motiva a ignorar diálogos sérios e necessários e passar por cima de discussões profundas e transformadoras. É a falta de se conhecer e de se re-conhecer na condição humana que nos leva a manipular o controle remoto como uma borracha capaz de facilmente apagar o que nos provoca sentimentos mais intensos e perturbadores. É para um caderno cheio de rascunhos a lápis e não importantes conclusões à caneta que estamos mirando nosso futuro.
É a ausência de respostas e a busca alucinada e ansiosa por mais perguntas que nos “deixa” violentar nosso corpo consumindo muito mais bebida do que ele é capaz de absorver e depois apagar da memória ações que nós mesmos praticamos. É a necessidade de nos encontrar na própria falta do que não somos, é a possibilidade de fugir da loucura das nossas imperfeições.
Enquanto restar a opção de encontro, quero acreditar que é possível reverter alguns conceitos que me parecem, mais do que errados, mal discutidos. Quero acreditar que, ao surgir uma polêmica séria sobre estupro, somos, como sociedade, capazes de estabelecer conexões humanas e debates efetivos sobre o assunto.
Ainda que seja difícil caminhar para dentro de nós mesmos e conviver com a intensidade de erros, feridas e dúvidas, nos perder de quem realmente somos é um real caminho para o abismo.