Arquivo do mês: janeiro 2012

Kusudama

Houve um tempo que qualquer papel em minha frente tinha dois destinos certos: ou um texto ou um origami. Hoje em dia o papel tem passado dias na minha bolsa em forma de uma caderninho novo que comprei e mal cheguei na metade. Bem raro.
Os guardanapos tem respirado aliviados, já que tem sido usados para seu fim original: limpar bocas. Em outro tempo eu os deixava nas mesas de restaurante em forma de tsurus, focas, borboletas, caixas. Folders e anúncios coloridos de revista também.

Será que a gente cresce? Será que desaprende a ser espontâneo? Será que perde o costume? O que acontece quando nem as coisas que você mais gosta, que te acalmam, que te definem fazem parte do seu dia-a-dia?

Segure com força momentos bons. Guarde bem na memória sorrisos lindos de piadas bobas. Preserve os amigos, faça companhia para os seus avôs e tenha paciência com seus pais. A vida é tão curta, é tão cheia e intensa que muitas coisas ficam para depois e aos poucos você perde sua definição.

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Avesso do avesso

Por: Marianna Abdo

A pessoa é fruto do altruísmo e do narcisismo e ainda quer equilíbrio na vida. É leonina com ascendente Aquário e quer manter a postura desencanada-não-to-nem-aí o tempo todo. Fica de mau humor quando sente que gosta demais. Pede pra ser dopada durante a retirada de dois dentes e depois nega a anestesia na hora de tirar os pontos inflamados. Briga e dá carona. Não termina o texto.

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O suposto estupro e o que eu tenho com isso

Por Juliana

É uma pena que nossas conversas depois de dias corridos e estressantes gire em torno de pessoas enjauladas que correm atrás de….? Dinheiro? Fama? Chega a ser triste, vocês não acham nem um pouco? Ter de escutar o jornalista Pedro Bial enchendo a boca e o bolso pra falar “da casa mais vigiada do Brasil”. É até desumano (eu acho de coração) que estejamos mais preocupados em vigiar essa casa do que as de nordestinos que choram a morte de filhos desnutridos, ou as de paulistanos e cariocas perdidas em enchentes, de índios destruídas por hidrelétricas.

Vão me dizer “dá licença, liberdade de expressão também é cada um escolher o que assistir e como se divertir”. Aumenta meu espanto. Vejam em que transformamos nosso conceito de divertir-se. Depois da novela, você tem um “encontro televisivo” com um bando de desconhecidos que te divertem. Não satisfeito, entra na sua rede “social” e posta piadas sobre estupro!!! Estamos reduzindo nosso poder de discussão sobre sérias questões sociais e éticas a brincadeiras de mal gosto no facebook. É brincadeira?! Pior que não.

O que mais me espanta, ainda, se é possível, são as consequências de toda essa avalanche. Para onde caminhamos nos comportando assim?

Penso que uma delas está na ausência de autoconhecimento. Engolidos por competições e informações, chegamos a um estágio de desconhecimento sobre nós mesmos. Digo nós para eu, você, nós, humanos. Alcançamos um nível de superficialidade tamanho que banalizar um estupro é normal, pois não reconhecemos nos outros o nós que somos.

É a falta de nós e de nos enxergarmos como outros que nos motiva a ignorar diálogos sérios e necessários e passar por cima de discussões profundas e transformadoras. É a falta de se conhecer e de se re-conhecer na condição humana que nos leva a manipular o controle remoto como uma borracha capaz de facilmente apagar o que nos provoca sentimentos mais intensos e perturbadores. É para um caderno cheio de rascunhos a lápis e não importantes conclusões à caneta que estamos mirando nosso futuro.

É a ausência de respostas e a busca alucinada e ansiosa por mais perguntas que nos “deixa” violentar nosso corpo consumindo muito mais bebida do que ele é capaz de absorver e depois apagar da memória ações que nós mesmos praticamos. É a necessidade de nos encontrar na própria falta do que não somos, é a possibilidade de fugir da loucura das nossas imperfeições.

Enquanto restar a opção de encontro, quero acreditar que é possível reverter alguns conceitos que me parecem, mais do que errados, mal discutidos. Quero acreditar que, ao surgir uma polêmica séria sobre estupro, somos, como sociedade, capazes de estabelecer conexões humanas e debates efetivos sobre o assunto.

Ainda que seja difícil caminhar para dentro de nós mesmos e conviver com a intensidade de erros, feridas e dúvidas, nos perder de quem realmente somos é um real caminho para o abismo.

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Prosa

Por: Marianna Abdo

Não é poesia. Busco os versos raras vezes quando não gostaria que fosse prosa. Vou até a estante e puxo Vinícius, Caeiro ou Drummond. Algumas linhas e passa.

Já a prosa… ah, a prosa. Todos os dias ali, uma necessidade. Lota a estante. Não passa.

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Ubiqüidade

Estás em tudo que penso,
Estás em quanto imagino:
Estás no horizonte imenso,
Estás no grão pequenino.Estás na ovelha que pasce,
Estás no rio que corre:
Estás em tudo que nasce,
Estás em tudo que morre.

Em tudo estás, nem repousas,
Ó ser tão mesmo e diverso!
(Eras no início das cousas,
Serás no fim do universo.)

Estás na alma e nos sentidos.
Estás no espírito, estás
Na letra, e, os tempo cumpridos,
No céu, no céu estarás.

Manuel Bandeira, Petrópolis, 1943

Cada um reza como sabe. 

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Quem viver verá. E quem não viver restará.

Como é estranho sentir a morte de alguém que você mal conhecia e que com certeza não fazia ideia de minha existência, mesmo tendo conversado cinco segundos comigo, uma fã, e com minha mãe na FLIP 2009.

Eu não sabia que ele era casado, ou que tinha filhos. Não sabia que já tinha publicado 17 livros. Mas eu o lia, um pouco atrasada, no Estadão, e já achava o máximo ele ter refeito os passos de Euclides da Cunha, escritor favorito do meu avô.

Então, no último dia do ano, vem a triste triste triste notícia de sua precoce precoce precoce morte. Por que, por que, por que as pessoas jovens se vão? Com a vida toda pela frente. Com tanta coisa por fazer! Com filhos para ver crescer, pessoas para amar, leitores para encantar.

A morte me prega peças. Me deixa com raiva, me deixa triste com Deus. Onde está a fé que eu preciso para aceitar que certas coisas são como são? Por que as pessoas boas vão cedo?

Corruptos não morrem, estupradores não morrem, nem pedófilos. Melhores amigos, irmãos, mães, pais, professores, colegas de infância, ídolos. Deus os pega pela mão e chama para viverem ao seu lado, iluminando, com seus talentos e prendas, o céu.

O título, uma tentativa de aforismo, em homenagem ao brilhante Daniel Piza, que foi brilhar no céu dos jornalistas e escritores.

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