Arquivo do mês: janeiro 2013

amar

As vezes acho que as pessoas amam tanto a gente, que nos sufocam.

 

Não deixam a gente ser o que a gente é.

 

Mas não é por mal, é por amor.

 

Dai, nesses casos, o amor mata.

 

Não no sentido literal.

 

Deu pra entender?

 

 

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Cena de filme

Por: Marianna Abdo

“Você precisa superar isso”, disse ele enquanto estavam lado a lado, deitados de barriga para cima, na cama de casal. Ficavam sempre assim, davam risadas, choravam (quase nunca os dois), falavam banalidades, às vezes de mãos dadas.

Com a frase, ele cometia dois erros: a palavra “precisa” sugerindo obrigação e o tom de urgência na superação que ela sempre alcançava com rapidez.

“Me deixa sofrer um pouco mais só dessa vez”, ela quis dizer pra ele… e pro mundo.

Lembrou de ter lido em algum lugar que as pessoas cansam de ouvir algo que o outro ainda quer repetir por um tempo. Lembrou da Eliane Brum dizendo que a melhor forma de esquecer é lembrando.

Ela quis dizer para ele entender, mas não disse. Ao invés disso, chorou alto e falou mais ainda. Acontecia sempre que chorava: seus ouvidos tapavam e por isso achava que precisava falar mais alto para ser ouvida.

“Mais do que você, mais do que ninguém, eu quero superar isso. Você acha que estou feliz de estar assim? Eu e somente eu sou interessada em tirar isso daqui de dentro. Mas não estou conseguindo agora, entendeu? Cadê o botão? Onde fica o botão pra tudo isso passar? Me diz, vai?! Cadê? Eu aperto agora se souber o caminho. Cadê? Fala!”.

Era a primeira vez que ele errava, que ele não dizia algo que ajudava, que não acelerava o processo de cura e ela, exigente que é, não pode entender o primeiro erro dele. E antes que ela voltasse a repetir tudo, ele a entrelaçou com as pernas e braços como num golpe no octógono e apertou, forte, com toda sua masculinidade.

Ela lembrou de um episódio de Grey’s Anatomy em que uma das médicas fez o mesmo com a outra que surtava e disse que isso ajudava o pânico ir embora. Disse:

“Você está sendo infantil” e ele soltou, imediatamente.

Seja como for, funcionou.

Passado o choro, ele olhou para aquele rosto familiar que tantas vezes tinha visto molhado de lágrimas e com o nariz escorrendo e disse:

“O mais legal em você é a sua intensidade. Que bom que ela está aqui hoje”.

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Experiência, sabedoria…

A voz dela e a entonação ficarão em minha memória por muito tempo, se Deus quiser. E acho que a ouvirei dizer isso muitas vezes ainda.

Praia, sol, chuva de tarde. Um fim de semana na praia que podia ter significado muito ou quase nada, só mais um?

A tia do meu namorado conversava com a gente antes do almoço. Ela tinha andado mal, pegou uma infecção de urina e teve que correr para um hospital público em b Bertioga pois nenhum particular atendia seu convênio.

– De que adianta a idade? De que adianta ficar velho? Nada. Só ficamos velho, ninguém nos ouve, não entendemos nada que se passa no mundo, ou entendemos pouca coisa. Dai, vem me falar de “experiência” e “sabedoria”… Pra quê? Pra que aprender tudo e quando vamos ensinar, usar nossa experiência, nossa sabedoria ninguém da bola! Os mais jovens acham que não falamos nada com nada, que não entendemos… Que no nosso tempo as coisas eram diferentes! Eram mesmo! Não tínhamos experiência, nem sabedoria…

Foi uma conversa casual, regada a risadas e beliscando comidinhas até todos voltarem da praia para almoçarmos. Mas em outras duas situações naqueles dois dias a Tia fez o mesmo comentário, após alguma ação de um de nós, os “jovens”:

– Viu, Izabel, experiência….sabedoria….

Aquilo ficou como tatuagem na minha cabeça. Não saiu mais e faz uma semana que todos os dias, em algum momento do dia eu penso nessas duas palavras e na entonação triste, porém irreverente que a Tia usou para lamentar aquilo que estava acontecendo e daqui para frente so iria piorar….E ela nem tem 50 anos!

Pensei nos meus avôs. Meu avó, a pessoa mais inteligente que conheci, que agora sofre e faz sofrer com o Alzheimer. De fato, não fala nada com nada. Mas quando eu nasci ele já era assim “velhinho” e eu já achava que ele não entendia as piadas, as novelas, as minhas histórias na escola. Mas ele entendia, hoje eu sei, só que era diferente. Era diferente das piadas na língua dele e da escola que ele frequentou na Itália. Só isso, diferente.

Minha avó também, apesar da idade avançadíssima cuida dele e das loucuras dele com a ajuda da minha mãe e do meu pai. Eu achava que ela não entendia que eu tinha amigas no colégio, ou que eu achava que sabia me cuidar sozinha (eu não sabia, acho que ainda não sei 100%…)

Que idiota, né? E olha que eles ensinaram muitas coisas para nós, apesar de nossa arrogância. Mas hoje, que eu entendo que eles tem muito mais a ensinar, eles estão confusos. Hoje que eu preciso, que eu faço perguntas diretas de “como fazer”, “onde foi”, “ainda temos” recebo respostas vazias, respostas a perguntas que não fiz, história nitidamente inventadas e o pior: exaustivamente repetidas.

Nossa, como é triste. De que adianta ficar velho?

Quem ler isso, por favor, aproveite a experiência e a sabedoria de quem ainda pode te responder e orientar….

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O aniversário da vovó

Por Juliana

Às vezes te olho como quem relembra o próprio passado. Observo suas ruguinhas, tratadas aqui no diminutivo de tão delicadas que me parecem, e sinto o quanto somos jovens, mesmo com a distância de 50 anos entre nós.

Pensando bem, avós e netos não tem distâncias, apenas pequenos intervalos capazes de transmitir vida. Não importa muito se o vovô é bravo ou a vovó doce demais, nutrimos por eles sentimentos indefiníveis.

No eterno ditado “avós estragam”, você me ensinou que disciplina demais também é muito chato. E daí se o neto quebrou os dois braços pulando do muro enquanto passava férias na sua casa?  Marcas da vida, e disso você entende bem.

Na época da Páscoa, eu esperava ansiosamente pelos ovos feitos com tanto carinho por suas mãos já com ruguinhas delicadas, torcendo para o meu ser o do embrulho rosa. Acho que você não sabe, mas apesar de achar engraçado você dormir de boca aberta à tarde no sofá e depois não ter sono à noite, eu sempre soube que secretamente você guardava energias para amar mais ainda nossa família.

Já nos conhecemos assim, eu neta e você avó, talvez por isso não me lembro de você sem essas tais ruguinhas. Afinal, quando nasci, você já era avó de três e ainda viria a ser de mais dois. A cada neto, mais dobrinhas para testemunhar o tempo dedicado a nos ensinar, silenciosamente.

Dizem que, depois de alguns aniversários, voltarei a ser criança. Você deve estar feliz por isso, vovó! Para registrar essa transição mágica, não sai da memória um momento recente. Ao pensar no presente dos 79 aninhos, pediu um maiô da escola de hidroginástica. “Todas as alunas usam esse maiô, só eu ainda não tenho”.

Você merece todos os maiôs do mundo, contanto que eles se adaptem às minhas amadas ruguinhas.

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Já que o mundo não acabou…

Pode parecer que não, mas eu sempre estive à procura. Meu coração inquieto nunca soube bem se decidir sobre nada. Amigos alguns, empregos por um tempo, gostos e manias então ganhei vários. Meu coração grande e bonachão, modéstia a parte, sempre arrumou espaço para “mais um” nessa trupe de circo que são minhas emoções. Pois a inquietude ficou sem palavras quando conheceu a tranquilidade do Rafael. Ela até tentou derrubar tudo logo no começo a amizade, colocando outras curvas nessa estrada. Eis que um ano depois do trauma e dois da perda de alguém muito especial, que meu coração se abriu para alguém que merecia ter sido o primeiro e único. A inquietude quis abalar a calmaria como pode: viagens, brigas, ciúmes, diferenças. Mas não teve como. Deus sempre sabe que o nosso coração quer de fato. E minha trupe circense montou seu picadeiro em outro coração que lhe deu tanto amor, que ela nunca tinha recebido de alguém que não fosse do seu sangue (ou tivesse te conhecido antes de ficar bem chata – eu tô bem chata ultimamente). Meu coração é enorme. Ainda cabe Deus e todo mundo. E sempre caberá. Porém, dirigindo o circo ao meu lado temos outro coração gigante. Apesar de desconfiados, nos completamos. Almas gêmeas nos achamos. Que seja eterno enquanto dure.

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p.s.: fui pedida em casamento. Dia 21/12/12 às 21h12. Já que o mundo não acabou…

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